No último dia 19 de setembro, completou 100 anos do nascimento de Paulo Campos, advogado, homem público e político humanista. A Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de Rio Verde prestou homenagem à sua memória, conferindo à sala dos advogados do Fórum Ricardo Campos o nome de Paulo Campos.
Segundo relembra o presidente da subseção, Alessandro Gil, em agosto de 2008, a Academia Goiana de Direito também agraciou a sua lembrança com a instalação do busto em bronze de Paulo Campos, no saguão do Fórum Ricardo Campos. “Ele, na visão dos seus colegas e amigos, foi um homem de ação. Inteligente, de raciocínio rápido e palavras precisas”, afirma Gil.
“Viveu intensamente a profissão, exercendo-a com ética e responsabilidade. Cidadão e pai de família exemplar, espírita dedicado, pregador de raro brilhantismo, político dinâmico e corajoso e que sempre acreditou na grandeza e generosidade do povo. Será eternizado pelas suas pregações, pelas realizações políticas e por suas obras sociais”, celebra Alessandro Gil.
Biografia
Em 1940, Paulo Campos prestou e passou no exame vestibular para a Faculdade de Direito de São Paulo, no largo de São Francisco. Mas, em 1943, teve seu curso interrompido, pois, juntamente com os acadêmicos, participou das manifestações contra o Governo de Getúlio Vargas e a favor da entrada do Brasil na guerra contra o Nazi-Fascismo.
A Pátria o convocou para integrar a Força Expedicionária Brasileira para lutar na Segunda Guerra Mundial. Em 18 de setembro de 1943, embarcou para o teatro de operações na Itália. Destacou-se nos combates das importantes batalhas da tomada do Monte Castelo e do Castelo de Roqueta Mattei, dentre outras. Permaneceu no Exército durante dois anos e meio, sendo condecorado com a Medalha de Campanha, em 15/02/1946 e a Medalha de Guerra, em 19/05/1947.
Retornou aos seus estudos na Faculdade de Direito e teve a honra de ver seu nome gravado em placa que se acha fixada naquela honrada instituição de ensino, em homenagem àqueles estudantes que defenderam a Pátria.
Após a guerra e consequente conclusão do curso de Direito, regressou à sua cidade Rio Verde onde se casou com sua prima Lélie Emrich em 27 de junho de 1946, com quem teve oito filhos, sendo dois deles advogados Lauro Emrich Campos e Péricles Emrich Campos, e netos Vinicius Fonseca Campos, Péricles Emrich Campos Segundo e Fabrício Rocha Campos, todos militantes na Comarca de Rio Verde.
Dedicou-se inteiramente à arte de advogar e, em pouco tempo, graças à sua vibrante oratória e talento excepcional na articulação das suas peças persuasivas em lições de doutrina e jurisprudência, obteve elevado prestígio e notoriedade na cidade e região.
Combativo e respeitoso, com educação e firmeza, alcançou os êxitos nas diversas áreas de sua atuação, levando o seu nome para galeria de um dos mais notáveis advogados do Estado e expandindo sua atuação em diversas comarcas do sudoeste Goiano, Tribunal de Justiça de Goiás e Supremo Tribunal Federal.No começo da década de 1950, abraçou a Doutrina Espírita e, em 1956, aos 36 anos, fundou o Instituto de Assistência de Menores (IAM) voltado para criação, educação e profissionalização da criança abandonada. Os recursos da sua construção foram colhidos através de doações junto à comunidade rio-verdense e sua inauguração ocorreu em 1961.
Não mais resistindo aos insistentes apelos populares, ingressou na vida pública, foi eleito prefeito de Rio Verde, tomando posse em 31 de janeiro de 1961. Sua administração, feita com planejamento e execução de obras fundamentais englobando todas as ações dos governos municipal, estadual e federal, sob o que denominou de Plano de Ação Municipal (PAM) 1961/1965, transformando o Município. Foi eleito pela mídia do Estado no período de 1962/1965 como um dos “13 Mais de Goiás” como benemérito e, no setor de administração, pelas obras realizadas na cidade e Município de Rio Verde.
Graças à sua capacidade administrativa, liderança, honestidade e ética, foi eleito Deputado Federal pelo MDB, alcançando a maior votação da oposição na disputa à Câmara Federal e a segunda maior do Estado (25.722 votos), trazendo à tona o seu enorme prestígio no Estado, já que teve votação em 122 municípios goianos.
Na Câmara Federal, preocupado com o desenvolvimento do Estado e da Região Sudoeste, com os destinos políticos econômicos do País e com a agricultura e pecuária, foi crítico ferrenho da nociva política de preços agrícolas adotada pelo Governo Federal.
Foi convidado pelo líder do MDB, Deputado Mário Covas (SP), a ocupar uma das vice-lideranças e se tornou um dos dez mais atuantes deputados em plenário, integrando a Comissão de Constituição e Justiça, e da Agricultura, com relatoria de diversos e relevantes projetos e pareceres contrários aos interesses do Governo Federal, que foram acatados e adotados pela maioria do Congresso Nacional.
Com sua coragem e altivez, estampando autoridade de sua vivência de expedicionário que já havia, no passado, lutado para que houvesse liberdade no País, voltou às ruas e às concentrações em defesa vibrante das liberdades individuais e democráticas.
Juntamente com outros parlamentares da oposição, enfrentou as autoridades da polícia do Exército, Militar e Civil, com intuito de tentar diminuir a repressão que existia contra qualquer tipo de manifestação popular.
Ainda como Deputado, foi preso em Brasília e levado para o Batalhão de Polícia do Exército, por lá permanecendo cerca de três dias, na honrosa companhia do eminente advogado defensor de presos políticos Sobral Pinto, e dos deputados Martins Rodrigues (ex-Ministro da Justiça e Secretário Geral do MDB e professor catedrático de Direito Constitucional da Universidade do Ceará), Deputado José Carlos Guerra e o Jornalista Carlos Castelo Branco, do então Jornal do Brasil.
Apesar de ter sido advertido pelos amigos de que os atos em defesa das liberdades individual e democrática poderiam decretar sua cassação, Paulo Campos, firme e coerente com as posições tomadas no Congresso Nacional, não se deixou intimidar e prosseguiu no firme propósito de defender suas convicções políticas e do que havia prometido aos seus eleitores: de ser um parlamentar preocupado com os destinos do país e com o bem estar de seu povo.
Após a cassação dos seus direitos políticos por 10 anos em 1969, apesar de nunca ter fechado seu escritório em Rio Verde, deu início à sua advocacia no Distrito Federal. Aceitou o convite do seu amigo aposentado Desembargador José Campos, antigo magistrado de Rio Verde, para atuarem na Justiça local, Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores.
Retornou a Rio Verde em 1971, quando reassumiu sua antiga banca de advocacia e, preocupado com a falta de habitação das famílias de baixa renda, juntamente com grupo de amigos, fundou o Serviço de Providência (Ser-Pro) com objetivo de construir 300 (trezentas) casas populares para serem cedidas para uso dos mais pobres.
Os recursos para construção da Vila Ser-Pro foram colhidos pela sua poderosa força moral e pelo exemplo das diversas realizações anteriores, recebendo doações de agricultores e pecuaristas que permitiram a construção das casas. O projeto SER-PRO serviu de modelo para os Mutirões da Moradia que posteriormente foi adotado do Governo do Estado.
Em l983, foi designado pela Ordem dos Advogados do Brasil – Secção de Goiás, como seu representante no Conselho Nacional do Brasil Pró-Constituinte, realizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, apresentando a tese “A Família Carente. Assistência”, que foi publicada nos Anais do referido Congresso, editado em São Paulo.
Participou dos movimentos para criação dos cursos de ensino superior em Rio Verde, que culminou com a Fundação de Ensino Superior de Rio Verde (FESURV), integrando o Conselho de Curadores. Em 1989, no mandato do prefeito Paulo Roberto Cunha, apoiado que se encontrava pelos seus filhos advogados Lauro Emrich Campos e Péricles Emrich Campos, aceitou o convite para atuar como Procurador Geral do Município.
Em novembro de 1995, recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo, a ‘Láurea de Reconhecimento pelos 50 (cinquenta) anos honrando com dignidade e ética a classe dos advogados, a Justiça e a Sociedade.
Faleceu em 26 de janeiro de 1999 e será sempre lembrado por suas obras que representam a certeza de que nada é impossível para aqueles que creem nos valores humanos e têm sua conduta inspirada nos princípios do Cristianismo.