Os jurados do plenário do tribunal do júri da 2ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida condenaram nesta segunda-feira (3 de setembro), por unanimidade, a 11 anos 11 meses e 16 dias em regime fechado os policiais federais aposentados e irmãos Valdinho e Ovídio Rodrigues Chaveiro pelo atentado a bomba contra o advogado Walmir Cunha, ocorrido em julho de 2016.
Eles foram enquadrados em crime de homicídio tentado triplamente qualificado, com as qualificadoras de motivo torpe, crime cometido com emprego de explosivo e dissimulação.
A decisão veio após dois dias de julgamento, totalizando quase 20 horas de audiência. Os sete jurados, duas mulheres e cinco homens, acolheram a tese apresentada pelo Ministério Público estadual (MP-GO) de que os dois irmãos enviaram uma encomenda com explosivos para o advogado.
Os presidentes da Comissão de Direitos e Prerrogativas, David Costa, e da Comissão de Acompanhamento Forense, Fabrício Britto, acompanham todo o procedimento, ao lado do presidente da Comissão Nacional de Defesas das Prerrogativas e Valorização da Advocacia (CNDPVA) do Conselho Federal, Cássio Lisandro Telles.
O presidente da OAB-GO, Lúcio Flávio de Paiva, destacou que a categoria recebe o resultado como expressão da Justiça e diz que Seccional Goiana não vai se curvar a qualquer intimidação contra advogados e advogadas. “A OAB lutará incansavelmente contra todo e qualquer tipo de ameaça contra a vida de Advogados e seus familiares”, resumiu.
Ele ainda destca que Seccional Goiana, por meio de seus representantes, acompanhou este caso desde o dia do atentado até esse julgamento, dando todo o apoio à vítima, tendo, inclusive, seu vice-presidente, Thales Jayme, como assistente da acusação.
Caso
O atentado foi uma represália ao trabalho do advogado, que recebeu a bomba em forma de presente em seu escritório. Ela foi entregue por um motoboy, que não sabia que se tratava de um artefato e, após tomar conhecimento pela imprensa da explosão, procurou voluntariamente a Polícia Civil para informar o fato e ajudou as autoridades na identificação do acusado durante as investigações.
Na decisão, o presidente do Tribunal do Júri, Lourival Machado da Costa, relatou: “Não se trata de um crime de ímpeto, quando o agente no momento de sua repulsa, instantaneamente, desencadeia sua ira contra a vítima. Ao contrário, trata-se de um crime premeditado, arquitetado em espaço de tempo considerável, com o maior sofrimento possível para a vítima, com o uso de artefato explosivo. A conduta foi praticada com a certeza da impunidade julgando-se o réu ser inatingível e inalcançável pela mão da Justiça.”
Reação
Acompanhando o tempo todo com seus pais, Walmir Cunha se manifestou ao fim do julgamento. “Recebo a notícia da condenação dos dois acusados do atentado contra minha pessoa com as esperanças renovadas no Judiciário e demais instituições brasileiras. Agradeço a toda a sociedade goiana e a toda advocacia brasileira que sempre estiveram ao meu lado nesta luta contra a impunidade. Essa decisão condenatória não é uma vitória minha, mas sim de toda a sociedade. É uma vitória sobretudo para o exercício pleno da advocacia, que não pode em hipótese alguma ficar refém de qualquer ato de violência física ou psicológica”, disse Cunha ao fim da sessão de julgamento.
Por causa do atentado, a vítima sofreu amputação de três dedos e parte da mão esquerda, fraturas expostas no pé, queimaduras de segundo grau nas pernas e teve o abdômen também perfurado e atingido com estilhaços de bomba. Walmir Cunha passou por sete cirurgias e por um intenso tratamento de fisioterapia para conseguir retomar a suas atividades no trabalho e em casa.
Foto: Comunicação Sem Fronteiras