O Brasil quer mudar, por Henrique Tibúrcio

30/10/2014 Artigo, Notícias
Confira o artigo do presidente da OAB-GO, Henrique Tibúrcio, publicado na edição desta quinta-feira (30) do jornal O Popular.
A eleição presidencial mais disputada desde a redemocratização culminou na reeleição da presidente Dilma Rousseff e revelou um cenário social que merece atenção especial do grupo que continuará no comando do País nos próximos quatro anos. A presidente foi reeleita com 51,64% dos votos, uma vitória apertada que não pode ignorar os 51.041.155 votos dos eleitores que optaram pela oposição.
Dilma terá que olhar para esses cidadãos insatisfeitos com o governo atual e procurar entender as óbvias razões desse desconforto. Mais do que isso, precisará realmente se empenhar em combater os problemas que os levaram a protestar nas urnas, num pleito que ganhou nítidos contornos de plebiscito.
Os principais motivos de rejeição ao atual governo que pautaram os debates na corrida presidencial – as fortes denúncias de corrupção nas suas entranhas e a estagnação da economia – não podem mais ser tratados como parte de uma estratégia conspiratória contra o governo.
É claro que há boas ações que merecem reconhecimento. O avanço nas políticas sociais é inegável e a ele deve ser creditada a vitória de Dilma. Uma grande parcela da população subiu degraus importantes no acesso à educação e a uma vida mais digna. Mas, a insistência em negar, omitir e minimizar os efeitos de uma forte crise na credibilidade da administração federal quase custou o segundo mandato da presidente. Essa postura do governo precisa ser urgentemente revista.
O grande desafio é manter os programas sociais e, ao mesmo tempo, investir no setor produtivo e empresarial do País. É necessário reconquistar a credibilidade da nossa economia, combater a inflação e recuperar o poder de compra da nossa moeda.
A insatisfação de significativa parcela da população ficou evidente, e seus contornos geográficos assustam. Mas é óbvio que qualquer interpretação que divida o Brasil está errada. Não há dois países, nem povos tão distintos assim. Todos querem praticamente a mesma coisa: melhorar de vida, crescimento, mas com ética e democraticamente. Isso ficou claro. É evidente a enorme diversidade regional em nosso País, o que é compreensível em um território continental. Mas, o tom de união do discurso da vitória terá que superar o momento de euforia e alívio para assumir lugar no cotidiano do próximo mandato. A presidente tem o dever de buscar diálogo com os eleitores e seus representantes que não concordam com as atuais políticas do Palácio. E isso não se faz com propostas populistas como tentativa de criação de conselhos populares via decreto, intenção felizmente já rechaçada pelo Congresso Nacional, ou com plebiscito para realizar a reforma política, como ela anunciou.
O diálogo se faz com ações democráticas que visem, efetivamente, ao combate da corrupção, que respeitem e preservem a independência das instituições e suas atribuições legais e que procurem realizar as reformas urgentes e necessárias ao desenvolvimento do Brasil, respeitando o Estado democrático de direito.
No domingo, a democracia foi exercida na plenitude, e a disputa eleitoral ficará para a história do País como uma demonstração patente de que o Brasil, ao tempo em que valoriza as suas conquistas sociais, também clama por mudanças profundas e, claramente, não quer mais esperar eternamente por elas.
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