O artigo “Não pergunte, não fale”, publicado na edição desta quarta-feira do jornal O Popular, é de autoria da advogada Chyntia Barcellos, coordenadora do Grupo de Trabalho da Diversidade Sexual e Combate à Homofobia da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO.
Em 1993, o então presidente norte-americano Bill Clinton sancionou a lei conhecida como Don´t Ask Don´t Tell (não pergunte, não fale), que autorizava gays a servir às Forças Amadas desde que não se revelassem, sob pena de punição.
Naquela ocasião, apesar de trazer o preconceito de forma velada, mencionada norma era vista como um considerável avanço, quando comparada à rigidez anteriormente imposta pelo Exército.
Também o enfrentamento direto de um tema tão polêmico quanto complexo não era prioridade daquele governo.
Passados dezessete anos e mais de 13 mil soldados expulsos do serviço militar por causa dessa regra, o cenário é outro. O atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, traz, desde sua campanha presidencial em 2008, a mudança dessa lei como uma de suas prioridades. Na semana passada, o Senado dos EUA barrou o projeto de lei idealizado por Obama, que pretende pôr fim à discriminação por orientação sexual no Exército. E fez, assim, prevalecer a lei de Clinton.
Tudo isso envolvendo um jogo, onde republicanos conservadores e opositores declarados do governo americano votaram não propriamente contra a lei e sim a favor de interesses partidários, os quais obstruem políticas importantes para uma minoria, que apesar dessa classificação envolve milhares de cidadãos que pagam impostos e contribuem para o crescimento do país como todos os outros.
Em contrapartida, um dia antes da malfadada votação, a irreverente roqueira Lady Gaga usou de sua popularidade para convocar 2 mil pessoas em protesto contra a lei que obriga homossexuais a manterem sua orientação em segredo. Essa não é a primeira vez que Lady Gaga defende os direitos de gays.
É notório que inúmeros artistas do rock usam do prestígio para encampar algum protesto político pelo bem, como fez anos atrás o cantor Sting em favor dos índios. No caso de Lady Gaga, a briga permeada de polêmica demonstra que por trás de uma mulher que foge aos padrões convencionais está uma cidadã do século 21, que enfrenta um tema extremamente delicado, mas acima de tudo relevante para os dias atuais, como os direitos civis de pessoas homossexuais.
Nos EUA, o debate não está encerrado, apenas adiado. Dependerá, assim como no Brasil, de um movimento de pressão da sociedade ao Senado. Só assim os avanços terão espaço em meio a tantos retrocessos.