Discurso Rafael Lara Martins – Solenidade de diplomação triênio 2022/2024

Senhoras e senhores, boa noite.

Eu sonhei com esse dia. E não poderia deixar de começar esse discurso de outra forma. Olhar pra trás e imaginar que aquele menino simples do Bairro Popular chegar à Presidência da OAB seria daqueles devaneios bobos das crianças que sonham acordadas – com os sonhos distantes da realidade. Eis que estamos aqui!

Mas acredito muito que nessa vida, nada se constrói sozinho. O egoísmo de lutas solitárias não prospera. E comigo não foi diferente. Minha vontade hoje é usar minha fala tão somente para agradecer. Agradecer muito – a tudo e a todos, por tudo, pelos bons e pelos maus momentos – afinal, esses nos fazem fortes.Começo agradecendo a Deus – pois sem ele nenhum sonho se torna possível, jamais.

Agradeço muito à minha família onde nasci e cresci. Vejo aqui minha mãe, alguns tios, alguns primos e tenho muita certeza que nos assistindo estão pela internet meus irmãos e de outro plano meu pai e minha vozinha que estariam explodindo de orgulho. Obrigado por tudo. 

Vocês foram, cada um à sua maneira, essenciais na caminhada daquele menino simples, mas estudioso, dedicado, e que conseguiu manter o coração bom em meio a tantos desafios.
Agradeço aos meus amigos. Essa família que a gente acaba escolhendo. Os amigos de infância e os que construímos ao longo da caminhada. Certa vez ouvi dizer que se conhece muito sobre uma pessoa ao observar o quão antigo são os amigos que caminham com eles. E nisso posso dizer que sou abençoado – pois muitos desses, de mais de 30 anos de história, estão aqui essa noite (alguns até mesmo entre os nossos conselheiros!). Obrigado por preencherem os espaços em momentos tão difíceis.

Guardo um lugar especial de agradecimento e gratidão a essas pessoas incríveis que estão aqui sentadas, conosco, e são, a partir de agora, a nova gestão da OAB Goiás! Somos um só, meus amigos! Um só. 

E nesse contexto, presto minha mais honesta e carinhosa homenagem ao grande líder que iniciou esse enlace. Um homem nobre, íntegro, líder tão sonhador quanto realizador. 
Em seu nome, Lúcio Flávio, homenageio todo nosso grupo que construiu junto e em sintonia, de agora e dos últimos seis anos. Gratidão eterna a cada um de vocês! E estendo esse sentimento não apenas à chapa eleita, mas a cada um de vocês que aqui está e que passaram alguns meses em nossa longa caminhada para chegarmos até aqui. Da base jovem à advocacia sênior, todos, sem exceção, muito, muito obrigado!

Agradeço por fim a toda advocacia por confiar a nós essa missão. Estar à frente da única profissão privada com previsão constitucional é uma honra e uma missão. Contem comigo sempre.

Por fim – e o mais importante – agradeço aos meus filhos: Daniel e Julia – por serem tão especiais e companheiros. Por não compreenderem a grandeza da caminhada e ao mesmo tempo por entenderem tão bem. Por serem luz após qualquer dia escuro. Por serem fonte de inspiração para qualquer aspiração. Papai ama vocês, muito! 

E a Danielle, a mulher da minha vida. Minha inspiração, minha companheira, aquela que me ensinou que um lar é um lar. Eu deveria me desculpar aqui por toda ausência durante a campanha, mas não vou, meu amor. Não vou me desculpar por isso, porque pelos próximos três anos serão muitas e muitas horas longe de casa, longe de ti e dos meninos, ausente fisicamente. E não vou me desculpar por um motivo simples: eu lhe pedi licença para isso. E você sabe que serei um presidente dedicado, entregue ao que acredito que possamos construir em prol da advocacia. Obrigado por entender, por incentivar, por permitir e até mesmo por me cobrar! Nem em meus sonhos mais ousados imaginei que teria uma mulher tão especial ao meu lado. Você é rocha, é luz e girassol. Te amo! Sempre. Obrigado por tudo. Tudo mesmo. De todo meu coração.

Nós estamos vivendo uma curva da história. Uma revolução tecnológica e social. E essa curva ainda está sendo desafiada há praticamente dois anos ao maior desafio que a humanidade moderna viveu – uma pandemia. Um vírus que – todas as cargas ideológicas que o circundam à parte – traz muito impacto a cada um de nós. Quando poderíamos imaginar, por exemplo, que em um dia tão especial alguns de nossos companheiros de gestão, entre eles as nossas duas diretoras, não poderiam estar presente nesse momento tão especial por terem testado positivo? 

Um salve especial a todos vocês que aqui não estão por isso, em nome das nossas queridas diretoras Talita Hayasaki e Fernanda Terra. 

Mas o impacto do vírus não traz apenas a ausência festiva. A pandemia nos impõe a reinvenção da forma como estávamos a acostumados a trabalhar, a estudar e até mesmo a viver. Pasmem: pessoalmente eu nunca havia utilizado um aplicativo para pedir comida antes da pandemia. Já nem sei o que seria da humanidade sem eles. E esses desafios batem à porta da advocacia. Esses desafios batem à porta da Ordem.

Se há seis anos o clamor da advocacia era por respeito à nossa instituição – em todos os sentidos (desafio muito bem superado pelas duas gestões que passaram do nosso presidente Lúcio) – hoje o clamor da advocacia se dá para as condições de trabalho.

O futuro chegou e ele não está aqui exatamente como esperávamos. Vivemos tempos estranhos. Vivemos tempos em que querem fazer acreditar que a advocacia é dispensável. Tempos em que pretendem normalizar um cidadão que tem cerceada sua liberdade em um presídio ter muita dificuldade de falar com seu advogado. Tempos em que em uma delegacia não se quer permitir o advogado presente em todos os momentos. 

Tempos em que pretendem se impor prazos inexistentes aos poderes a nós conferidos e por vezes até impedir de exercê-los, como no levantamento de alvarás, por exemplo. Tempos em que se apresentar como advogado se torna uma afronta e agredir o advogado se torna factível. 

Mais do que nunca tenho como atual a célebre frase de um dos grandes patronos da advocacia, Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Não temamos, meus amigos, não temamos, pois a Ordem não vai esmorecer um único minuto! Lutaremos intransigentemente pelas prerrogativas e respeito à advocacia. E mudaremos a forma de enfrentar esse tema. 

Não permitiremos que uma minoria absoluta de violadores de prerrogativas manche os nomes das instituições no desrespeito ao advogado. Para cada agressão teremos, além de todas as medidas tradicionais e já realizadas pela ordem, uma medida correicional no órgão de quem desrespeitou a advocacia: do estagiário ao presidente, responderão tantas vezes quantas forem necessárias, pois a advocacia será respeitada!

Será também prioridade da nossa gestão o mercado de trabalho da advocacia. Se o futuro é agora, precisamos preparar a advocacia para tanto. Por meio da nossa Escola Superior de Advocacia e de todos os projetos que visam estar ao lado da advocacia jovem, da advocacia estabelecida e da advocacia sênior. 

Já no início da gestão queremos colocar em prática projetos que certamente revolucionarão a relação da advocacia goiana com o empreendedorismo e mercado de trabalho: a incubadora de novos escritórios; o planejamento de carreira e o networking, que é a promoção do encontro de quem busca um lugar com aqueles que buscam pessoas. Já dizia Sêneca (que poucos sabem ter sido também advogado): “muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las”. Empreendamos, advocacia de Goiás, empreendamos!

E por falar em empreender o que parece ser difícil, não nos furtaremos de trazer para a mesa da presidência da OAB Goiás talvez um dos maiores desafios que enfrentaremos: o alto valor das custas judiciais e cartorários de nosso Estado. E enfrentaremos esse tema com toda a energia necessária, cientes da sensibilidade e das dificuldades que nos serão postas. Mas o faremos com sabedoria, discernimento e diálogo, na busca de uma solução que impacta não apenas o mercado de trabalho da advocacia, mas que principalmente cerceia o acesso da população à justiça e sangra o setor produtivo judicial e extrajudicialmente. 

Sabemos, com muita clareza, do quanto precisaremos do Poder Executivo Estadual, Legislativo e Judiciário para essa pauta. Contem com nossa sensibilidade e discernimento do real e possível, mas não esperem inércia de nossa parte. Parcelamento não é redução, muito menos solução.

E isso tudo somente será possível pois teremos de novo uma só Ordem em prol da advocacia. Um grupo de pessoas que aqui estão e que trabalharão juntos e em sintonia em prol de todos e não para seletos grupos, sob rubricas menores. 

O que temos em nossos bolsos são carteiras da OAB e não carteiras de ESA, Comissões ou CASAG. Temos um sistema e queremos dar exemplo a todo país. Por isso que adianto, desde já, nobres diretores do CF, teremos em Goiás uma gestão modelo de sistema OAB unificado e garanto essa construção ao lado desse líder gigante que temos a honra de ter aqui e que agora estará à frente da CASAG, Jacó Coelho. 

Serve para a presidência da Ordem e da CASAG, mas serve também para todas as demais cadeiras que cada uma das autoridades aqui presentes ocupam, de uma presidência de sindicato à presidência da república: jamais nos esqueçamos que as cadeiras são maiores do que quem as ocupa. Nós passaremos e precisamos devolver nossas instituições melhores do que a recebemos. Aprendi isso com um grande amigo e líder!

Também não posso deixar de falar sobre Direitos Humanos. Tema esse que para mim é tão especial e que tem sido, infelizmente, maltratado nas acepções ideológicas. Tenho e defendo que falar em Direitos Humanos não pode afastar a direita nem ser pauta exclusiva da esquerda. 

A dignidade da pessoa humana é inegociável e sem viés partidário ou ideológico, trazer essa pauta para o centro do debate da Ordem chega a ser minha obrigação como doutorando do assunto. E isso jamais será discurso – nem para aplausos e muito menos para oportunismos. 

Todos sabem que temos aqui a primeira mulher trans eleita como conselheira no Brasil – Amanda Souto – e que muito representa para a pauta, mas que aqui se faz presente hoje pela advogada aguerrida e liderança que é. Essa é a representação do que pensamos – passar sempre pelo mérito!

Por fim, mas não menos importante, não posso deixar de falar sobre o grande desafio social e político da ordem, especialmente nesse ano de 2022, em que se aproximam grandes eleições e que prometem ser uma das eleições mais desafiadoras que já tivemos. Em tempos de fakenews, tão presentes em todos os momentos e certamente balizadoras de pautas reais e inexistentes na política, lembro de uma célebre frase de Winston Churchill sobre a fina linha que há de proteger a liberdade de expressão: “A noção de liberdade de expressão para algumas pessoas é que elas são livres para dizer o que quiserem, mas, se alguém diz algo de volta, elas ficam indignadas”. E esse será um dos grandes desafios da Ordem. Buscar o equilíbrio em suas posições e isenção política de sua atuação institucional. Seja lá de onde vier, de que partido for, não se tolerará, ataques à nossa democracia e Constituição Federal.

E mesmo distantes das eleições, a Ordem será sempre independente e distante dos palanques político-partidários. Teremos a distância saudável de todos os poderes, com proximidade suficiente para o diálogo necessários para se construir, mas distância adequada para o endurecimento nas pautas que forem necessárias, sempre com respeito institucional e admiração das lideranças que temos aqui em Goiás. Em nosso grupo temos a representação de praticamente todas as ideologias políticas do Estado e com respeito e mútuo construiremos essa ordem sempre independente.

Caríssimos advogados e advogadas, há alguns meses eu visitei a advocacia de todo o Estado de Goiás e no início da caminhada eu prometia apenas duas coisas: muito trabalho e compromisso. Hoje, posso dizer a todos vocês que além de trabalho e compromisso vocês tem um grupo unido e que todos os dias se fará uma única pergunta antes de qualquer medida a ser tomada: “é bom para a advocacia”? 

Com o trabalho de cada um de vocês, tenho certeza que faremos uma grande gestão à frente da OAB Goiás, meus amigos. 

E podem apostar todas as fichas nisso, afinal de contas: foguete não tem ré!

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