A participação ativa das mulheres na prática jurídica foi tema de discussão no último dia da Conferência Estadual da Advocacia, promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO). O painel “Mulheres na Advocacia: Liderança e Empreendedorismo” explanou a significância dos papéis femininos para além do mercado jurídico, englobando, também, imagens socialmente estabelecidas.
A mesa foi presidida pela secretaria-adjunta Fernanda Terra e composta pela presidente da Comissão da Mulher Advogada (CMA), Fabíola Ariadne, atuante como secretária dos trabalhos, e pelas palestrantes Thassya Prado, advogada empresarial, especialista em gestão de pessoas, gestão empresarial e tribunais superiores, mentora de advogados e idealizadora do perfil @entendaseudireito; e Gabriela Pereira, advogada especialista em Direito Imobiliário, Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social.
Realidade histórica
Atuante na advocacia tributária, Fernanda Terra expôs a documentação escassa de mulheres em grandes eventos históricos. “Não nos esqueçamos de qual era o lugar da mulher até bem pouco tempo atrás. Não nos esqueçamos de quão mais difícil é para nós estarmos aqui. Não nos esqueçamos que nossa Instituição, quase centenária, imprescindível para a manutenção do Estado Democrático de Direito, jamais foi presidida por uma mulher”, frisou. Terra aproveitou a ocasião para enaltecer a gestão do presidente Rafael Lara Martins, o parabenizando pela ampla luta pelo protagonismo feminino em locais de destaque na Ordem goiana.
Atuação jurídica
Ao iniciar a discussão, Thassya Prado questionou o levantamento de locais de fala e bandeiras defensivas, colocando que, para ela, o tema essencial de debate é “gerir, liderar e ser várias versões enquanto mulher”. A advogada salientou que o conhecimento atrelado a construção gradual de credibilidade torna a realidade enquanto mulher advogada uma luta continua, mas compensatória.
Em mesma medida, ao expor a essencialidade de se realizar escolhas com excelência, Thassya defendeu a organização de rotina, o foco em sistematização de processos, a padronização de procedimentos e a divisão funcional de tarefas para o alcance da estabilidade profissional. “Hoje eu sou várias versões, todas com excelência, porque eu escolhi. As nossas múltiplas funções não anulam a nossa competência”, pontuou. A palestrante ainda expôs que não há motivos para se autossabotar e se auto negligenciar, já que o crescimento está justamente no aproveitamento dos processos individuais.
A secretária dos trabalhos Fabíola Ariadne aproveitou a oportunidade para defender a importância de se realizar os devidos recortes de gênero, de classe social e de raça ao se discutir questões como o papel social da mulher.
Empreendedorismo feminino
Em sua exposição, Gabriela Pereira apresentou uma análise detalhada sobre as etapas de desenvolvimento de um escritório de advocacia. Para ela, todos os passos geradores de interações entre clientes e advogados devem ser analisados como estratégias de evolução profissional, tendo em vista a fidelização do consumidor e a construção de credibilidade perante o serviço prestado.
A painelista também apresentou os sentidos que a fazem possuir uma mentalidade de crescimento, fato que acredita ser chave para a adaptabilidade à quaisquer realidades. “Tudo o que alcanço hoje, eu mereço alcançar. A trajetória é extremamente difícil, mas ela é muito prazeroso se nós tivermos a sensibilidade de olhar a nossa evolução ao invés de simplesmente olhar a evolução do outro”, destacou. Para Gabriela, a crença na limitação de recursos, na baixa valorização financeira e na dificuldade de negociação impossibilitam o empreendedorismo na advocacia.
Encadeando as ideias, a advogada ainda defendeu que o domínio pleno da área jurídica perde a completa relevância quando não há o trabalho de demais habilidades como as de negociação e comunicação. “Você conseguir se autoconhecer e saber exatamente quais são as necessidades profissionais que você detém, faz com que você enxergue quais as qualidades profissionais das pessoas que vocês contrataram”, acentuou. Nesses aspectos, o autoconhecimento e o respeito às crenças pessoais são fatores determinantes na busca por uma advocacia de sucesso. “Infelizmente, nós aprendemos que precisamos dar conta de tudo. E quando a gente resolve, aceita, se submete a dar conta de tudo o tempo, a gente acaba negligenciando a coisa mais importante de nossa advocacia, e de nossa vida, que somos nós mesmos. Toda vez que a gente vai se anulando para poder preencher requisitos, a gente vai se deixando para trás. E toda vez que a gente se deixa para trás, a gente deixa de dar um passo para a frente”, apontou.
Conferência
A Conferência Estadual da Advocacia de Goiás 2024 teve início na última segunda-feira (3), com palestra magna conduzida pelo professor, autor e ex-presidente da OAB Nacional, Marcus Vinicius Furtado Coelho. Juntamente com o presidente da OAB-GO, Rafael Lara Martins, foi discutido o tema: “Advocacia Unida: Construindo Pontes Para o Acesso à Justiça” (clique aqui e saiba mais).